A incrível história do Sixto Rodriguez, o Sugar Man


Sixto Díaz Rodriguez nasceu e cresceu na cidade de Detroit, Michigan no dia 10 de julho de 1942. Sexto filho de um imigrante mexicano e de uma descendente de nativos americanos, Sixto viveu boa parte da sua vida sem luxo.

Sua carreira musical começou em 1967 como "Rod Riguez" e um single chamado "I'll Slip Away", lançado pela Impact Records. O single não trouxe fama para Sixto, que só voltou a gravar em 1970, ano em que assinou um contrato com a Sussex Records e lançou "Cold Fact". Ainda pela Sussex, "Rodriguez", nome artístico que ele adotou nessa época, lançou "Coming from Reality" em 1971. Os álbuns foram um fracasso na época e Sixto abandonou sua carreira musical em 1976.

Com o fim da sua curta carreira musical, Sixto comprou uma casa abandonada de Detroit em um leilão do governo por US$ 50, onde ele vive até hoje, e começou a trabalhar com demolições, uma atividade que pagava bem pouco. Em algumas composições, Sixto fala abertamente sobre política, vide a ótima "The Establishment Blues", e tentou por anos, sem sucesso, entrar para esse meio, até conseguiu alguns cargos públicos, mas nada de relevante.

Garbage ain't collected, women ain't protected
Politicians using people, they've been abusing
The mafia's getting bigger, like pollution in the river
And you tell me that this is where it's at.

Em paralelo a tudo isso que narrei e sem o conhecimento do Sixto, ele se tornou uma estrela na África do Sul. Como todos sabemos, o Apartheid vigorou na África do Sul de 1948 a 1994 e esse foi um período de isolamento do país, pouco se sabia do que acontecia no mundo, só uma minoria tinha acesso ao que era produzido no exterior. De alguma forma, os dois álbuns do Sixto chegaram a África do Sul e venderam milhões de cópias, fazendo do músico de Detroit um astro pop, inclusive, para aqueles que estavam lutando contra Apartheid, algumas músicas até foram proibidas de tocarem nas rádios sul-africanas era proibido possuir uma cópia de seus álbuns. A fama era tão grande no país que muitos o comparavam com Bob Dylan e Cat Stevens.

Ele não ficou famoso só na África do Sul, seus álbum também foram um sucesso na Austrália, onde fez turnês em 1979 e 1971, Botswana, Nova Zelândia e Zimbábue.

Com todo esse sucesso na África do Sul, Sixto deveria ter se tornado um milionário, mas como o país era isolado do mundo, Sixto só foi tomar conhecimento do seu status de astro pop nos anos 1990 e nunca recebeu um centavo de direitos autorais. Boatos absurdos são bem comuns em países isolados e com o Sixto não foi diferente. Circularam diversos boatos sobre sua morte, mas dois se destacam: um dizia que ele teria se banhado de gasolina e ateado fogo no próprio corpo durante um show; o outro dizia que ele tinha atirado na própria cabeça durante um show.

Sixto só ficou sabendo da sua fama na África do Sul em 1997. Alguns fãs começaram a investigar, até criaram um site, a história do Rodriguez e chegaram até o Mike Theodore, produtor do primeiro álbum do Sixto. Craig Bartholomew Strydom, jornalista e um dos fãs que estava "caçando" o Sixto, contou a história de sucesso do músico em seu país.

Craig entrou em contato com Mike em agosto de 1997 e descobriu que Rodriguez não tinha se suicidado. Mike ficou surpreso com o sucesso do Rodriguez e Craig eufórico por descobrir que seu ídolo estava vivo. Nessa mesma época, Eva, filha mais velho do Sixto, descobriu o site "The Great Rodriguez Hunt" e deixou uma mensagem: "Rodriguez is my father! I’m serious." Eva também deixou seus contatos e o Stephen "Sugar" Segerman logo entrou em contato com ela e pediu para falar com seu pai.

Estamos atrás dos fatos ...
Gostaria de saber quantos de vocês sabem o que aconteceu com o enigmático cantor popular dos anos 60, Jesus Rodriguez?
Bem, nós não fazemos, então a razão para a grande caçada a Rodriguez é que não estamos mais satisfeitos com uma lenda urbana que só é bom para conversar.
Com o auxílio destas páginas, esperamos estabelecer uma "hotline Rodriguez", e encontrar o paradeiro e história de vida desta figura mística do folclore urbano.
Este site (o único site de Rodriguez conhecido na internet) permite-lhe descobrir a sua única "antologia" conhecida, comprar o seu álbum ou participar no fórum Rodriguez. Se você ver o homem em um 711 com Elvis em algum lugar no centro de Joanesburgo, você saberá com quem entrar em contato. Texto retirado do site 'The Great Rodriguez Hunt'


Sixto entrou em contato com Craig e, sem dúvidas, deve ter ficado impressionado com seu status no país. "Você é maior que o Elvis", disse Stephen. "Que quer dizer?", perguntou Sixto. "Na África do Sul você é mais popular que Elvis Presley", respondeu Stephen. Após essa frase, a ligação ficou muda e Stephen pensou que Rodriguez tinha desligado. Stephen então continuou: "Te prometo que se vier aqui, não se decepcionará."

Com a "descoberta" do paradeiro do seu ídolo, não demorou muito para Rodriguez fazer sua primeira turnê na África do Sul. Rodriguez foi recebido como um astro pop e seis shows foram agendados para 1998, todos lotados e ele tocou para milhares de fãs. O primeiro show aconteceu na Cidade do Cabo no dia 8 de março e dois mil fãs estavam presentes. Esse artigo da época conta a história do primeiro show. Um documentário, "Dead Men Don't Tour: Rodriguez in South Africa", foi exibido na SABC TV em 2001 e mostra imagens dos shows na África do Sul. Algumas cenas desse show não mostradas no documentário "Searching for Sugar Man", e é possível escutar os fãs gritando "Rodriguez, Rodriguez, Rodriguez" com a mesma empolgação que eu gritei "Stones, Stones, Stones" na Praia de Copacabana, cantando com aquele sentimento que só sentimos quando escutamos nossos ídolos ao vivo, é emocionante.

A África do Sul me fez sentir como um príncipe.

Mesmo após dua redescoberta, Rodriguez continuava sendo um desconhecido nos EUA. Tudo mudou em 2012 com o lançamento do documentário "Searching for Sugar Man" no Sundance Film Festival, que ganhou diversas premiações na categoria "Melhor Documentário", incluindo Oscar, Critics' Choice Awards e British Academy Film Awards.

Searching for Sugar Man é um filme sobre a capacidade de a música viajar e inspirar de formas imprevisíveis. É também sobre o poder da curiosidade, que pode levar dois caras a vaguear pelo mundo para encontrar o homem cuja música eles amam. É sobre a concretização da ambição, mas com uma modéstia e um encanto que se sentem especialmente bons em uma era de excessos bancários. E é uma elegia a um tempo anterior a internet, antes que todos instantaneamente soubessem tudo sobre todos, quando o mundo ainda estava cheio de mistérios e surpresas. The Economist.


O diretor do documentário, o sueco Malik Bendjelloul (1977-2014), viajou pela América do Sul e África a procura de "histórias que valessem a pena ser contadas". Quando chegou na Cidade do Cabo e entrou na loja de discos do Stephen "Sugar" Segerman e ouviu a história do Rodriguez, Bendjelloul percebeu que não precisava mais viajar para procurar histórias. "Achei a mais incrível que já ouvira. Como um conto de fadas clássico. Como a Cinderela ou algo semelhante". Sem financiamento, começou por filmar com um iPhone, criou as animações do filme e a trilha sonora. "Isso não é suposto ser o filme 'real', porque o filme real, haveria profissionais que entrariam e me ajudariam. E então continuei sem conseguir dinheiro, e no final o filme foi enviado para o Sundance, e foi aceito naquele estado que continha apenas o que eu pensava ser esboços."

Segundo Bendjelloul, Sixto quase não participou do documentário. Em 2008, ele entrou em contato com Rodriguez e falou sobre a ideia de rodar um documentário que falaria sobre a sua fama na África do Sul. Rodriguez recusou a proposta de entrevista até Bendjelloul visitá-lo em Detroit três vezes. "Ele sentiu pena da gente", diz Bendjelloul. "Ele ficou tipo: 'Melhor eu ajudar essas pessoas, porque elas são loucas'. Rodriguez participou do filme por bondade."

Com o estrondoso sucesso de "Searching for Sugar Man", o grande público conheceu a história e a música do "Sugar Man" e, consequentemente, ele começou a fazer shows pelo mundo. Ele foi para a Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, França, Inglaterra, Espanha, Portugal, Itália, Suíça, Áustria, Polônia, Alemanha, Bélgica e tocou em grandes festivais como o Glastonbury, Montreux Jazz Festival e Coachella.

O sucesso demorou para chegar, mas quando chegou, foi avassalador. Hoje a música do Rodriguez é escutada por milhares de pessoas no mundo - no Spotify são mais de 560 mil - e sua história é contada com entusiamo pelos fãs da boa música.

Eu já tinha ouvido falar do documentário, mas nunca tinha assistido. Recentemente o leitor Marcelo Cezar me enviou uma mensagem pelo Facebook e disse que tinha escutado a história dele na sua passagem pela África do Sul. Como sou curioso, resolvi pesquisar e o inevitável aconteceu: me apaixonei pela música e história do Sixto.


Com informações do Sugarman.orgWikipedia, Público, Filmmaker, Rolling Stone.
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