Os melhores álbuns de Blues de 2017


Ao contrário do Country, eu não sou um tradicionalista quando o assunto é Blues. Ao contrário do Country, o Blues nunca foi mainstream, ou seja, não foi corrompido pelo imediatismo ou pelas fórmulas repetitivas que só visam bons números nos charts.

O Blues tem dezenas de vertentes, se mistura com diversos estilos e, até o momento, não escutei uma mistura que não me agrade, parece que o Blues se encaixa com qualquer estilo. Conheço pessoas que repudiam essa diversidade, que acham que o verdadeiro Blues é aquele que veio do Delta do Mississippi e que o resto não tem valor. Eu não posso criticar essas pessoas, penso bem parecido quando o assunto é Country, mas no Blues a coisa é diferente.

Listas são extremamente pessoais, não sigo critérios muito rígidos para classificar os álbuns, só classifico eles na ordem dos que mais gostei. Por fim, não deixem de seguir a playlist dessa lista no Spotify, lá vocês irão encontrar muito mais que 50 álbuns.


1. Gregg Allman - Southern Blood

Musicalmente, "Southern Blood" é de tudo que o Gregg fez durante sua longa carreira, ele passeia por diversas vertentes do Blues, R&B e Country, admito que fiquei impressionado pela grande quantidade de faixas Country, que sempre foi uma grande influência do músico. As versões Country de "Going Going Gone" (Bob Dylan), "Black Muddy River" (Grateful Dead), "Willin'" (Little Feat) e "Song for Adam" (Jackson Browne) ficaram sensacionais e foram uma surpresa para mim.

"Song for Adam" é um destaque a parte, o Gregg colocou muito sentimento nessa faixa, que sempre fez ele se lembrar do Duane Allman, e o pedal steel é um instrumento que reforça esse tipo de sentimento. "Willin'" é sobre continuar seguindo em frente, não importa se você está em beco sem saída, avance, e isso foi o que o Gregg mais fez na sua vida.

As canções de "Southern Blood" não foram escolhidas de forma aleatória, cada uma conta um pouco da vida do Gregg, "A ordem das músicas conta a história do Gregg. Quando Gregg as escolheu, ele sabia onde elas estavam na jornada de sua vida. Ele já estava com a doença em um estado mais avançado", disse Michael Lehman, gerente do músico. Outro detalhe fundamental no álbum é que ele todo gira em torno da voz do Gregg, que é inquestionavelmente uma das vozes mais belas de todos os tempos.
Em "My Only True Friend", única faixa inédita, continua me arrepiando, é difícil escutar os primeiros versos e não pensar que ele escreveu isso pensando na sua despedida. Sua voz, suas composições e todo seu legado jamais será esquecido por aqueles que tiveram a chance de apreciar sua obra. É triste escutar "Southern Blood" e lembrar do grande músico que perdemos, mas também foi maravilhoso escutar sua voz mais uma vez, ter mais músicas suas para escutar, poder escrever algo sobre seu trabalho. Obrigado por tudo Gregg!

2. Gov't Mule - Revolution Come...Revolution Go

Engana-se quem acha que "Revolution Come...Revolution Go" é um álbum político, ele é bem diversificado, musicalmente e liricamente. Não vou perder tempo "babando ovo" das qualidades do Warren na guitarra, do Matt Abts na bateria e da banda como um todo, quero usar esse tempo para falar da voz do Warren. Não basta ser um dos melhores guitarristas da sua geração, o cara tem que ter uma puta voz, uma daquelas inconfundíveis. É impressionante como ele melhora álbum a álbum. Na minha humilde opinião, o Warren é o músico mais completo do Blues, talvez um dos mais completos da música na atualidade. O cara escreve ótimas canções, sua voz está em um patamar elevadíssimo e poucos se comparam a ele na guitarra.

3. Supersonic Blues Machine - Californisoul

Não me encantei com a estreia da Supersonic Blues Machine como a maioria dos críticos de Blues, gostei, mas achei bem mediano, as participações especiais chamaram muito mais a atenção do que a banda. "Californisoul" segue uma fórmula bem parecida da estreia da a banda, Blues Rock de muita qualidade e muitos convidados especiais (Robben Ford, Billy Gibbons, Eric Gales, Steve Lukather e Walter Trout), mas dessa vez Lance Lopez & Cia brilharam acima de qualquer estrela convidada. "Californisoul" me pegou de jeito, fico mais impressionado a cada vez que escuto. Não faz muito tempo que a Supersonic Blues Machine começou sua jornada, mas os caras já estão fazendo muito barulho por aí. 

4. King King - Exile & Grace

King King, esse é o nome da banda que alguns chamam de a "melhor banda de Blues Rock do mundo". Não tenho coragem de afirmar isso, mas garanto que os britânicos estão no top 10 e que "Exile & Grace" é o álbum que colocará os britânicos de vez no panteão do Blues Rock. A pegada está um pouco diferente de "Reaching for the Light", lançado em 2015, o som está mais Rock, mas a banda não perdeu sua alma Blues. E já ouviu falar de Alan Nimmo? Se ainda não conhece, passou da hora de se encantar com o trabalho desse ótimo guitarrista e vocalista.

5. The Delta Saints - Monte Vista

A The Delta Saints tem evoluído constantemente seu som, no início essa era uma banda de Blues Rock, estilo que ainda é a base do álbum, mas a adição de influências do Rock alternativo deu uma cara diferente para a sonoridade da banda, chegando a um ponto que é difícil classificar o som dos caras, que eles chamam de "Bourbon-Fueled Bayou-Rock". O carro chefe de "Monte Vista" é a animada "California", que tem uma pegada bem pop. "Burning Wheels" me fez lembrar um pouco de The Black Crowes, talvez seja por isso que se tornou em uma das minhas preferidas do álbum. "Crows" é um pouco mais indie, mas não menos bela. "Roses" é minha preferida, começa lenta e aos poucos vai aumentando seu ritmo, chegando ao ápice no seu refrão pegajoso e com belos riffs no fundo. Cada música de "Monte Vista" soa diferente e isso é uma tendência cada dia maior entre as bandas que estão tentando fazer algo mais original. 

6. Kenny Wayne Shepherd - Lay It On Down

O Kenny Wayne Shepherd é um dos músicos de Blues mais bem sucedidos da atualidade, você pode não gostar dele, pode achar seu Blues comercial demais, mas ele é um dos nomes que ainda mantêm o estilo na grande mídia, angariando novos fãs ano após ano. "Lay It On Down", seu primeiro álbum autoral em seis anos, é um dos álbuns mais ricos do Kenny, ele expandiu suas influências e colocou um pouco de Soul ("Diamonds & Gold"), Country ("Hard Lesson Learned") e Hard Rock, mas seu som ainda é majoritariamente dominado Blues Rock, e faixas como "Baby Got Gone" e "Nothing But The Night" estão entre os destaques do álbum. Além da bela performance do Kenny na guitarra, algo que é normal, vale destacar as performances do vocalista Noah Hunt, principalmente nas faixas "How Low Can You Go", "Nothing but The Night" e "Louisiana Rain". O Kenny se encaixa naquela categoria de músicos que estão sempre buscando expandir suas fronteiras musicais, nada muito diferente do que o Joe Bonamassa, Gary Clark Jr., Tedeschi Trucks Band e outros músicos de Blues fazem na atualidade, mas assim como os nomes citados, ele não abandona totalmente suas raízes, o Blues sempre está presente. 

7. Tinariwen - Elwan

Os músicos da Tinariwen hoje podem ser considerados refugiados e utilizam sua influência para falar da situação da sua terra natal, o Mali. "O Tenere tornou-se uma planície de espinhos onde os elefantes lutam uns contra os outros, esmagando a grama macia sob os pés", canta Ibrahim Ag Alhabib em "Tenere Taqqal", lamentando o fato de sua terra natal ter se tornado um campo de batalha para lutas entre diferentes facções do seu povo. Ao mesmo tempo que lamentam a situação, a banda critíca seu povo em "Imidiwan N-Akall-In": "Meu povo abandonou seus caminhos ancestrais, tudo o que resta é uma terra gemendo cheia de pessoas idosas e crianças. Oh, meus irmãos! Vocês estão no caminho errado". Esse álbum é bem mais pessimista que seus antecessores e além das críticas já citadas, a banda fala da vida no deserto, na necessidade de água, o bem mais precioso naquele canto do mundo, da amizade e lealdade, do abandono da alegria e da situação dos idosos e das crianças. Como li em um comentário, "este é o verdadeiro Blues do deserto". Esse é o segundo álbum da banda no exílio e eles fazem questão de mostrar como isso os entristece, mas existe esperança, eles ainda não desistiram do seu maior sonho, que é explicitado em "Ittus": "Eu lhe pergunto, qual é o nosso objetivo? É a unidade da nossa nação."

8. Samantha Fish - Belle of the West

Quando escutei "Chills & Fever" alguns meses atrás, a coisa que mais me chamou atenção foi o fato da sua guitarra perder importância nas canções e da sua voz se tornar o centro das atenções. Se você pegar qualquer faixa de seu álbum anterior, "Wild Heart", irá perceber que a voz da Samantha voz é destaque em todas as canções, mas a guitarra é um instrumento que se destaca o tempo todo e é uma peça importante no seu som. Eu achava que essa mudança era algo de momento, uma experiência que ela quis fazer em "Chills & Fever", que foi muito bem sucedida, mas que ainda não seria adotada em um álbum autoral. Me enganei muito, mas não estou odiando essa mudança, pelo contrário, me adaptei perfeitamente a essa "nova" Samantha Fish. "Eu nunca serei um artista de Blues tradicional, porque isso não é o que eu sou", afirma Fish. "Mas o Blues é tudo para mim. Quando Muddy Waters e Howlin 'Wolf saíram, o que eles estavam fazendo não se parecia com nada que tivesse sido feito no Blues antes. Você deve manter esse tipo de fogo e espírito. Eu nunca vou fazer melhor do que Muddy Waters, então eu tenho que ser quem eu sou e encontrar a minha melhor voz". E ela conseguiu! Como um antigo fã, não tenho dúvidas, "Belle of the West" é seu melhor trabalho, suas composições estão mais maduras e profundas, a instrumentação está mais diversificada e sua voz é um espetáculo a parte. 

9. Delta Moon - Cabbagetown

O lado ruim desse constante bombardeio de informações é que, na maioria das vezes, não conseguimos filtrar aquilo que realmente nos interessa, boa parte do que nos atinge é inútil. Sou um pesquisador frenético, adoro investir horas do meu dia procurando bandas legais, mas nem sempre alcanço todas, a Delta Moon é uma dessas que demorei para conhecer. A Delta Moon não é uma banda novata, já está na estrada desde os anos 90 e já lançou oito álbuns de estúdio. "Cabbagetown", seu lançamento mais recente, é simplesmente fabuloso. A banda tem influências do Swamp Blues, Boogie Bock, Delta Blues e acaba caindo no Southern Rock, principalmente na faixa de abertura, "Rock and Roll Girl". A dupla de guitarristas Tom Gray e Mark Johnson me fez lembrar das grandes duplas que já existiram no Southern Rock, os caras são muito talentosos, não é a toa que eles são conhecidos como "Atlanta's sultans of slide guitar".

10. Savoy Brown - Witchy Feelin'

A banda britânica Savoy Brown, uma verdadeira instituição do Blues Rock, volta à tona com seu novo trabalho intitulado "Witchy Feelin". O trabalho conta com ótimas canções com a voz de Kim Simmonds que remete à Mark Knopfler. Recheado de solos, a virtuosidade da guitarra de Simmonds segue firme e não perdeu força com o passar dos anos. A sonoridade do disco é crua, típico som britânico do rock. No geral, o disco mantém sua pegada variando entre canções com batidas constantes e outras um pouco mais lentas, com linhas de baixo apenas acompanhando o ritmo da bateria, sem firulas, deixando o virtuosismo com a guitarra de Kim Simmonds.  O disco de um modo geral, vale à pena ser ouvido. Não traz nenhuma sonoridade diferente daquela que há em outros discos da Savoy Brown mas também não decepciona. O disco é simples e direto, como um bom Blues Rock britânico tem que ser.

11. Cary Morin - Cradle to the Grave
12. Gina Sicilia - Tug of War
13. Robert Cray - Robert Cray & Hi Rhythm
14. Robert Randolph & the Family Band - Got Soul
15. Tyler Bryant and the Shakedown - Tyler Bryant and the Shakedown
16. Walter Trout - We're All In This Together
17. Tommy Castro - Stompin' Ground
18. The Magpie Salute - The Magpie Salute
19. The Stones Foxes - Visalia
20. SIMO - Rise & Shine
21. ZZ Ward - The Storm
22. Rev. Sekou - In Times Like These
23. Rufus Black - Rise Up
24. Laurence Jones - The Truth
25. André Gimaranz - Supermoon
26. Ottis Gibbs - Mount Renraw
27. Eric Bibb - Migration Blues
28. Noel Andrade e Blues Etílicos - Noel Andrade & Blues Etílicos
29. The Reverend Peyton' Big Damn Band - Front Porch Sessions
30. Taj Mahal & Keb' Mo' - TajMo
31. Otis Taylor - Fantasizing About Being Black
32. Charlie Parr - Dog
33. Mr. Sipp - Knock A Hoke In It
34. Casey James - Strip It Down
35. Alastair Greene - Dream Train
36. Janiva Magness - Blue Again
37. Kim Wilson - Blues and Boogie, Vol. 1
38. Elvin Bishop - Elvin Bishop's Big Fun Trio
39. Hayes McMullan - Everyday Seem Like Murder Here
40. Sean Chambers - Trouble & Whiskey
41. Luke De Held & the Lucky Band - The Redland Son
42. Left Lane Cruiser - Claw Machine Wizard
43. Eric Gales - Middle of the Road
44. Big Daddy Wilson - Neckbone Stew
45. Carolyn Wonderland - Moon Goes Missin
46. Southern Avenue - Southern Avenue
47. Milligan Vaughan Project - MVP
48. Kate Lush - Let It Fly
49. Vin Mott - Quit the Women for the Blues
50. John Primer & Bob Corritore - Ain't Nothing You Can Do!
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